quarta-feira, março 31, 2010

"quero só te mostrar pequenas coisas, todas vivas".

Mesmo com chuva eu vou, mesmo na chuva, eu vôo... Sim, eu vim aqui pra te convencer que o amor pode ser tranqüilo e bom...que se a gente fechar bem os olhos é capaz de a gente até ouvir o som...eu vim aqui pra te chamar pra ir lá pra casa, sentar e me esperar, vim aqui pra dizer que a vida às vezes é bem chatinha, mas "peraí" ainda tem tanta coisa boa pra rolar, e se a gente quiser, não pode ser? tudo o que a gente quiser, não é que pode ser? E você, quer o quê? E você o que quer? Eu já sei o que quero e vim pra dizer :Quero nuvem, janela, viagem, cachorro, quintal, coragem, quero muito medo do avião pra pegar na sua mão e sorvete, domingo, piscina, sol e sal, mas sal quero pouco que muito faz mal, música do Djavan e cinema, pipoca, beijo, beijo quero muito, quero o pôr- do - sol, quero depois o lençol, quero sustos, quero sorrisos, almoço, família, churrasco, aniversários, amigos, quero muito Fla X Flu, quero ver a vida em azul, quero vontade, quero até a vaidade, quero querer acordar alguns dias juntos, eu quero ser dois, quero também ser uma melhor...Então pra que me perder? Não me perca, não...Não se perca, então...Não me fira, meu bem, que não sei ferir ninguém...Minha asa, não machuca em vão, porque quero voar de novo, de novo andar longe do chão...Quero sempre céu limpo agora... Mas quando chover quero andar bem devagar que é pra dar tempo de molhar. E se molhar, molhou... Não é pra isso também o amor? Pra quando chover, pra quando fizer frio, pra quando você aprender a se molhar, pra quando chover, pra quando esfriar...Pra quando você aprender a chorar...

terça-feira, março 30, 2010

"saber-se pertecente é ter mais nada. / É ter tudo também."

Paraguaçu: - Manga! (mostrando a fruta)

Diogo: Manga! (mostrando a manga da camisa)

Paraguaçu: Fiapo! Fiapo de manga! (mostrando o fiapo da manga)

Diogo: Fiapo, fiapo de manga! (mostrando o fio tirado do tecido da manga da camisa)

Paraguaçu: ê língua enrolada!... É tudo sempre assim, é? uma palavra só tem serventia pra um 'monte' de coisa?

Diogo: Às vezes, dá-se o contrário.... existe uma infinidade de palavras para explicar o amor, por exemplo...

...'e amor, é bicho ou planta? Mostra onde tem?' ' Tem aqui, ó!'

Diálogo entre Paraguaçu e Diogo, o Caramuru, no filme Caramuru, a invenção do Brasil

" " Hilda Hilst - Cantares do sem nome e de partidas


domingo, março 28, 2010

"pétala por pétala que um tolo pode colher"

Deixa eu te explicar, porque me parece que você ainda não percebeu como essas coisas funcionam...

É assim ó: você recebe e você entrega também. Não, não é preciso dar muito de uma vez, nem tudo o que se tem, mas sendo uma troca, (talvez eu tenha esquecido de dizer, mas digo então, é uma troca) então sim, necessariamente alguma coisa tem que ser doada, entregue, e não exigida de volta, porque assim seria um empréstimo, e já disse, e repito, é troca... Mas não se preocupe, tendo o que entregar, não é difícil não... nem dói, e você não sentirá falta daquilo que entregou, pois essas coisas que se entrega nasceram pra isso, de verdade, de verdade mesmo não são nossas, estão assim dentro da gente e aí nasceram só pra que a gente pudesse doar...
Mas se você não tem nada pra dar... ah, que pena... eu sinto tanto, vai ficar fora da brincadeira...

Então vamos ver, quem aí quer brincar de VIDA?

" " Pétala por pétala - Chico César

sábado, março 27, 2010

"...por causa da distância, da separação, de um espaço que as falas não podem transpor."



Nando compôs, mas agora é meu, sou eu que estou dizendo:

Baby, eu só queria te dar a mão







Baby, eu queria - Nando Reis


André Comte-Sponville
frase do texto escrito para o catálogo oficial da exposição “Plis d’excellence”,
Museu do Correio, Paris, 1994

sexta-feira, março 26, 2010

"e o sabor no silêncio da respiração, baby eu queria..."

Uma pergunta tem sido recorrente nestes últimos dias. Três grandes amigas, em momentos e ambientes e contextos diferentes me questionam a mesma coisa: Por quê? Por que nos apaixonamos, porque amamos pessoa A e não nos apaixonamos, amamos pessoa B, ou pessoa C? Eu poderia dizer o que? Que no meu caso é fácil: pessoa A é encantadora, divertida, leve, doce, aberta, espontânea, ri alto das minhas piadas, sonha os meus sonhos, torce por ver todos os meus planos realizados, entende o que eu digo, entende o que eu não digo, me dá colo quando quero, pede colo quando precisa... Eu poderia dizer tudo isso mas, seria inverdade... Pessoa A não tem todas essas qualidades, tem outras, não essas; pessoa A não tem essas atitudes, tem outras que eventualmente me pareceram ser de demonstração de afeto, mas não exatamente essas citadas... Pessoa A se basta de tal maneira que chega a dar raiva imaginar que todos os seus dias possam ser perfeitos sem meu toque, sem minha intervenção...
Por que então? Me perguntam e eu tenho me perguntado há dias... Se de início faz-se sempre aquele discurso de que é melhor sentir, se jogar, se permitir, do que não viver uma paixão, do que não saber como cores podem ser tão mais coradas, como canções podem ser tão mais tocantes, agora que já me joguei (e o cimento já não estava fresco!), já me permiti, e nada me foi permitido, agora, passado o floreio, passada toda aquela alegria tosca que a paixão nos dá, não consigo mais entender por que.
Por quê? Vaidade? Orgulho ferido? Birra infantil minha de não ter o brinquedo que eu quero, quando eu quero, pra brincar como eu quero? Eu não sei responder. Eu não sei o que dizer. Eu sequer consigo explicar como, de repente, esses cheiros todos voltam ao meu olfato no meio de um dia normal, com uma impressionante sensação de realidade, se eu não abro os olhos, posso jurar que pessoa A está ali, na minha frente, com seu riso muito branco aberto pra mim, pra rir não das minhas piadas, mas da minha poesia boba diante dos riscos da vida contrapondo-se a toda a sua auto declarada madureza e equilíbrio, se eu não abro os olhos, pessoa A é real demais, mas exatamente como no meu sonho. Não quero mais abrir os olhos... O mundo de pessoa A, além das minhas pálpebras fechadas, não faz mais intersecção com o meu mundo, e me pergunto mesmo se algum dia fez... Se eu inventei toda a emoção sentida e transmitida com todos os 12 sentidos que eu tenho quando perto de pessoa A? Se não foram reais todos os olhares emocionados e emocionantes trocados, mudamente? Se um pedacinho dessa estória não fica assim, latejando como um dedo machucado, em algum pedacinho dentro de pessoa A? Por que não tudo isso com pessoa B ou pessoa C?
Quem explica? Como se explica? Alguém me explica? Ah, sim, a questão inicial era pra mim, eu é que tenho que achar respostas? Não dou conta... Hoje não, talvez daqui a alguns dias, algumas semanas, alguns meses, talvez sim daqui a algum tempo, quando esse cheiro da respiração de pessoa A parar de me perseguir, me atormentar, me assustar, me assombrar. Hoje, não respondo. Hoje, não.

" " Baby, eu queria - Nando Reis

quarta-feira, março 24, 2010

" Raízes, veneno, meus sonhos pequenos"

Se você falasse...

O que me diria?

Se você falasse

Diria que meu olho te agrada?

Que acredita em fada?

Ou acredita em nada?

Se você falasse

Me chamaria pelo nome?

Ou de meu bem?

Diria que meu suor é sal,

Diria que o meu beijo é bom?

Que a minha pele é quente?

Diria o que sente?

Se você falasse

Diria que sonhou comigo?

E que a partir de agora,

Sua vida vai girar ao redor do meu umbigo?

Se você falasse

Diria o que do meu ciúme?

E da minha paixão, o que diria?

Das minhas piadas, riria?

Se você falasse

Diria todos os seus medos?

E seus segredos, me contaria?

Se você falasse...

Eu ouviria

Se você ousasse...

Eu até ia...


" " Cicatriz - Nô Stopa/ Marcelo Bucoff

terça-feira, março 23, 2010

"Abre aspas e me leva nos meus versos que são seus"

“Que intimidade existe maior que a do sonho? A desse sonho que ainda trago em mim como um objeto que me pesasse no bolso? Ainda me parece sentir o mar do sonho que inundou meu quarto. Ainda sinto a onda chegando à minha cama. Ainda me volta o espanto de despertar entre móveis e paredes que eu não compreendia pudessem estar enxutos. E sem nenhum sinal dessa água que o sol secou, mas de cujo contacto ainda me sinto friorento e meio úmido (penso agora que seria mais justo, do mar do sonho, dizer que o sol o afugentou, porque os sonhos são como as aves, não apenas porque crescem e vivem no ar).
...
O sonho volta, me envolve novamente. A onda torna a bater em minha cadeira, ameaça chegar até a mesa. Penso que, no meio de toda essa gente de terra, gente que parece ter criado raízes, como um lavrador ou uma colina, sou o único a escutar esse mar.”

Trecho da fala de Raimundo em Os três mal-amados, de João Cabral de Melo Neto

" " Abre aspas - Nô Stopa

domingo, março 21, 2010

"soledad, aqui están mis credenciales"

Impossibilidade. Engano. Banalidade.
Desvontade. Mágoa. Insensibilidade. Confusão.
Merecimento. Inacessibilidade. Sedução.
Despertencimento. Indecisão. Impotência.
Necessidade. Pretensão. Afogamento. Calor. Palpitação.
Obscuridade. Clareza. Convicção.
Incerteza. Devaneio. Ilusão.
Blindagem. Afastamento. Intuição.
Cabimento. Exclusão. Iminência.
Saudade.
Susto.
Medo
Solidão.
Ê coração bobo, cheio de tanta palavra besta...



" " Soledad - Jorge Drexler

sábado, março 20, 2010

"é inútil pois existe um grão-vizir"

Crueldade: s.f. Prazer que se experimenta em fazer sofrer ou ver sofrer

Senhores, agora é oficial: eu sei o que é crueldade.
Sim, senhores, eu tinha dúvidas. Sim, senhores, eu tinha esperanças.
Sim, os senhores sabem que sou uma mulher de esperanças vãs.
Sim, senhores, existe sim uma palavra ou um gesto que salva. Sim, senhores, eu espero, até o último momento, esta palavra ou este gesto.
Sim, senhores, eu escuto vozes, eu vejo coisas.
Sim, senhores, eu preciso largar mão de ser conivente com a crueldade alheia. Sim, senhores, está doendo. Sim, senhores, eu sabia. Mas, saber não muda mais nada, senhores.
" " Chão de giz - Zé Ramalho

quarta-feira, março 17, 2010

"qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura"


(...)
me perco
e estranho
essa presença em mim
que insiste em não morrer


Hilda Hilst


" e a esfinge da espera
olhos de pedra sem pena de mim"

Herbert Viana


" " - Guimarães Rosa


"era loucura, como é louco tudo o que eu fiz"



é casca...
ferida... é isso só...
cutuca não,
cutuca não que sangra

" " Fado Doido - Oswaldo Montenegro

sábado, março 13, 2010

" e se pensar, a gente já queria tudo isso desde o início"


Sobre isso, eu já sei que:

- é preciso ter calma
- é importante lembrar das feridas que se tem
- é preciso regar o amor próprio
- é preciso ter cuidado ao mergulhar em águas escuras
- nem se devia mesmo mergulhar em águas escuras
- é preciso ficar longe do ferro em brasa
- nem se devia brincar com fogo
- é preciso manter distância de cães bravos
- sentimento algum tem garantias
- sempre passa, a experiência grita isso
- enquanto não passa, eu penso que nunca vai passar
- quando passar, eu vou querer de novo

" " Dois - Tiê



quarta-feira, março 10, 2010

"se quer tamanho vou despir a alma"

Contra todas as possibilidades
Contra todas as probabilidades
Contra todas as minhas verdades
Contra todo o meu bom senso
Contra todo o meu juízo
Contra toda a minha razão
Contra tudo o que preciso
Contra tudo o que penso
Contra toda a minha religião
Mas, sim, sim, sim, sim!
E daí?


" " Laranja - Maria Gadu



terça-feira, março 09, 2010

"olhos de vidraça, fosca, embaçada"



quando o que a gente quer mesmo é arrancar a roupa, toda essa farsa, todo esse envoltório de disfarces, de dissimulações e mostrar a alma, mostrar tudo aquilo que vai por dentro, mostrar e exigir que o outro tenha olhos pra ver, tenha boca pra dizer, fala, fala, diz alguma coisa, não percebe o meu afogamento, o meu sufocamento, não percebe, não me dá a mão? Qual é a palavra ou gesto pra te mobilizar? O que me mata é a impotência, é não ter o que fazer, não ter como convencer, o que me mata é o que me salva: esse orgulho que ainda me veste, que ainda me protege.


" " Foto Polaroid - Isabella Taviani

"um certo olhar e eu piso movediço"

Senhor Dono do Tempo,

Quando passa?
Quando passará?
Eu já quero parar de me doer, eu já quero só florir, eu já quero só sorrir.
Quantos dias, Moço dos Ponteiros?
Quantas noites?


" " Um Momento - Bruna Caram

domingo, março 07, 2010

"perto de ti dança a minha alma desarmada"

Embora por fora eu esteja me contendo,
por dentro... ah, por dentro...



" " Balada de Agosto - Fagner e Zeca Baleiro



Presente Passado Isabela Taviani

"ingênua, de vestido, assusta"

(sem assunto)
De: Ana Pinho (mme.scarpin@hotmail.com)
Enviada: terça-feira, 30 de junho de 2009 1:11:05
Para: P.


Ouvindo o novo cd do Nando Reis, nem sei bem o que te dizer. Sei que sinto que há tanto amor por aí, há tantos amores por aí, há amores tão belos por aí, amores tão grandes, daqueles que a gente julga impossíveis de início e então tudo se metamorfoseia e eles se realizam, eu sei que você sabe, eu sei que você também percebe esses amores por aí, amores que fazem pessoas terem vontade de dividir o amor, fazer canção pra todo o mundo saber desse amor... Há tanta gente capaz de amar por aí... Vi de novo a cena da toureira Lídia em “Fale com ela” e de novo chorei, de novo senti: há tanto amor por aí, há tanta beleza por aí... e eu aqui, querendo regar um cacto! “explicação nenhuma isso requer”



Beijo

Ana

" " Linda Rosa - Gugu Peixoto/Luis Kiari - canta Maria Gadú

"Tempo rei, ó Tempo rei...


"o sofrimento é um sentimento iluminador"

Amigos,

Sobre 2008 não posso dizer que foi um ano fácil, não posso dizer que foi um ano leve, não posso dizer que foi um ano vazio. Tenho que dizer que foi um ano inesquecível. As taças foram cheias em todos os sentidos, do melhor licor, doce, delicioso, ao pior fel, amargo e travoso. Mas tive que tomá-las todas, não pude deixar uma gota pra ninguém, essas doses eram minhas. Felizmente o sabor doce sempre supera o amargo, e eu, enfim, tenho mel em minha boca.

Um ano de muitas dores, decepções, choro e ranger de dentes, é certo... Mas também um ano de muitas superações, muitas surpresas, boas surpresas, muitas gargalhadas verdadeiras junto a pessoas verdadeiras, muitos presentes da amizade... Um ano em que eu finalmente tive coragem de olhar pra trás, de olhar pra dentro, de olhar pra frente e, perdoar o que se foi, buscar o que é, preparar o que será. Um ano em que consegui definir quem são as pessoas que importam e me aproximar mais delas, um ano em que consegui definir quem são as pessoas que não importam, e me afastar delas, de vez.

Um ano de terapia, rally, direção, dança, escritos, congresso de zouk, Van Gogh e Modigliani, medo e coragem, desafio e vitória, despedidas e encontros. Um ano em que vi, agora de verdade, a esperança vencer o medo, as diferenças todas caírem por terra diante do mais corajoso dos sentimentos, o amor, da vontade de ser dois, e da disposição de ser feliz, e estar lá pra ver foi um dos momentos mais importantes pra alimentar a minha própria fé no que o futuro pode trazer.

Um ano em que verdadeiramente fiquei feliz em ver amigos felizes, e em que fiquei triste ao vê-los tristes. Um ano em que tive, de novo e sempre, a certeza da amizade de velhos amigos, tive, de novo e sempre, a certeza do amor e do orgulho de minhas filhas por mim. Um ano em que aprendi a ir atrás do que eu quero e vi que às vezes dá certo... às vezes, não. Mas, sem ter ido, não saberia.

Um ano em que vivi coisas transformadoras, dentro de mim...Um ano em que plantei mais jardins pra diminuir esse meu deserto, pra que fique mais ameno atravessá-lo, porque sim, é preciso atravessá-lo.
Eu quero então que o Novo Ano me encontre de braços ainda mais largos, me encontre de coração ainda mais puro e escancarado e de olhos ainda mais abertos pra enxergar toda a beleza que a vida me trará, e que eu possa fechá-los pra sentir toda a poesia dessa beleza...

Agradeço por estar me sentindo mais forte a cada dia, agradeço pelas manhãs de sol, agradeço, sobretudo pelas chuvas...
Agradeço pelos encantamentos que ousei sentir, quer tenham sido verdade ou invenção, pouco importa, fizeram brotar flores raras dentro de mim, enormes, e vale de qualquer modo, pelo perfume e pelo colorido que deixarão, ao fenecerem, se fenecerem...

Agradeço por amigos tão bonitos e verdadeiros, pelas aventuras, pelas risadas, pelos braços abertos, pelas conversas, pelas broncas, pelos puxões de orelhas, pelos olhos úmidos, agradeço, enfim todos esses gestos e mais outros que eu sei, foram determinados pela amizade.

Desejo que minha família seja uma família. Desejo que meus amigos sejam meus amigos. E que sejam felizes. Desejo que o desejo mais puro de cada um deixe de ser um sonho e se transforme em plano, ou mesmo que enfim se realize de vez, e aí vale qualquer desejo. Desejo que tenhamos sustos maravilhosos, mudanças de planos, que a vida nos surpreenda... Desejo mesmo de verdade é que todos sejam felizes.

Desejo também que tenhamos amor, que o amor se personifique e venha atravessar com a gente os nossos jardins e os nossos desertos. Pra fabricarmos, juntos, dentro de nós, oásis, cada vez mais verdes, cada vez mais vivos.
Que assim seja!
Porque assim será!

Ana

" " Tempo Rei - Gilberto Gil

"a Ana inventou, ela também merece"



Amor Fugaz
Música Gláucia Nasser e Ivan Rosa
Letra Marta Costa

Ele chega liga a tv pra mim
Ele não quer namorar
Não aquece, nem me tira o ar
Não me ganha com o olhar
Ele sai e diz que já vai voltar
Ele não quer namorar
Quando chega tão cansado, enfim
Ele nem olha pra mim
Meu bilhete esqueceu de ler
O meu beijo marca só papel
O seu colarinho em linho bom
Não conhece o meu batom
Eu quero mais, não apenas um amor fugaz
Eu quero mais e você tem muito mais pra dar
Eu quero mais, não apenas esse amor fugaz
Eu quero mais, nosso tempo a gente faz
Hoje cedo ouvi na televisão
Que o amor é quase assim:
Um pro outro e outro só pra si
Mas eu tenho outra versão
Já pintei as unhas de carmim
Pra chamar sua atenção
Tem perfume e luvas de cetim
Pra aumentar a sedução
Eu não quero ouvir outro chamar
Que nos tire do nosso lugar
Só um lindo dia amanhecer
De tanto te amar


" " A Ana - Ana Cañas

sábado, março 06, 2010

"vou emprestar meu corpo e o cobertor"



QUANDO OS AMANTES DORMEM
Affonso Romano de Sant’Anna

Quando as pessoas se amam e
querem se amar, selam um pacto:
dormir juntas.

E quando se fala "dormir juntos" o
sentido é duplo:

Significa primeiro amar acordado
em plena vigília da carne, mas,
depois, na lassidão do pós-gozo,
deixar os corpos lado a lado,
à deriva, dormindo, talvez.

Na verdade, os amantes, quando
são amantes mesmo, mesmo
enquanto dormem se amam.

Agora ouço esses versos de Aragón
cantados por Ferrat:
"Durante o tempo que você quiser
Nós dormiremos juntos".

E penso. É um projeto de vida, dormir juntos, continuamente.

A mesma ambigüidade: dormir/amar
juntos, dormir/acordar juntos, ou
então, dormir/morrer de amor juntos.

Deve ser por causa disto que os franceses chamam o orgasmo de "pequena morte".
Deve ser por isto que os amantes julgam poder continuar amando mesmo
através da morte, como Inês
de Castro e D. Pedro, que foram
sepultados um diante do outro, para
que no dia do reencontro um
seja o primeiro que o outro veja.

Amor: um projeto de vida, um projeto
de morte.
Se numa noite dessas o vento da insônia soprar em suas frestas, repare no
corpo dormindo despojado ao seu lado.

Ver o outro dormir é negócio de muita responsabilidade.

Mais que ver as águas de um rio
represado gerando uma usina de sonhos,
é ver uma semente na noite pedindo um guardião.

Pode ser banal, mas é isto: amar é ser
o guardião do sonho alheio.

Os surrealistas diziam: o poeta enquanto dorme trabalha.

Pois os amantes enquanto dormem,
se amam.

Se amam inconscientemente, quando
seus desejos enlaçam raízes e seivas.

O pé de um toca o pé do outro, a mão espalmada corre sobre o lençol e toca
o corpo alheio e, dormindo,
se abraçam animados.

Quando isso ocorre, pode ter vários significados.

Talvez um tenha lançado um apelo
silencioso ao outro:

"Ajude-me a atravessar esse sonho",
ou:

"Venha, sonhe esse sonho comigo,
é bonito demais".

E o outro, às vezes, sem se mexer,
parte em seu socorro.

É que certos sonhos, sobretudo os de
quem ama, não cabem num só corpo.

Transbordam os poros da noite e
pedem cumplicidade.

E se há um pesadelo, aí um se agarra
ao tronco do outro na crispação
do instante, e o corpo do parceiro é
bóia na escuridão.

Por isto, no ritual do casamento,
quando o sacerdote indaga se os que
se amam sabem que terão que se
socorrer na saúde e na doença, na
opulência e na miséria etc...

Deveria se inserir um tópico a mais
e advertir:

... Amar é ser cúmplice do sonho alheio.

Passar a metade da vida dormindo a
o lado do outro.

Há pessoas que vivem 25 anos -
bodas de prata,

50 anos - bodas de ouro, 75 anos -
bodas de diamante;

Ao lado do outro, e não sabem com
que o outro sonha.

E há quem passe uma tarde, uma
noite ou uma temporada ao lado de
um corpo e sabe seus sonhos
para sempre.

Engana-se quem escuta o silêncio
no quarto dos que amam.

Estranhos rumores percorrem o
sonho alheio.

Não é o rugir do tigre pelas brenhas.

Não é o bater das ondas na enseada.

Nem os pássaros perfurando
a madrugada.

São os sonhos dos amantes em plena elaboração.

E se numa noite dessas o vento da
insônia de novo soprar em suas
frestas, olhe pela janela os muitos apartamentos onde pulsam dormindo
os amorosos.

Quando se compra um apartamento
novo, nas alturas, alguns compram
lunetas e ficam vasculhando a vida
alheia.

Mas para ouvir o ruído dos sonhos
basta abrir os ouvidos na escuridão.

Os sonhos pulsam na madrugada.
Era uma vez um chinês que toda vez
que sonhava com sua amada
acordava perfumado.

Deve ser por isso que, ainda hoje,
o quarto dos amantes amanhece
com um perfume de almíscar, lavanda
e alfazema.

E é comum achar troféus dos sonhos
ao pé da cama de quem ama.

Quando se abre a pálpebra do dia,
aí pode-se ver um unicórnio de ouro
e uma coroas de rubis.

À noite os sonhos dos amantes
se cristalizam e de dia se liqüefazem
em beijos e lágrimas.

Quem ama diz boa-noite como quem abre/fecha a porta de um jardim.

Não apenas como quem viaja, mas
como quem vai para a colheita.

Quando se ama, acontece de um
habitar o sonho do outro,
e fecundá-lo.


" " Qualquer Lugar - Lô Borges

sexta-feira, março 05, 2010

Clarice me disse


Eu sei, é clichê... de novo, eu a leio e ela me lê.




“Existe um ser que mora dentro de mim como se fosse casa dele, e é. Trata-se de um cavalo preto e lustroso que apesar de inteiramente selvagem _ pois nunca morou antes em ninguém nem jamais lhe puseram rédeas nem sela_ apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come às vezes na minha mão. Seu focinho é úmido e fresco. Eu beijo seu focinho. Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito. A menos que ele escolha outra casa e que esta outra casa não tenha medo daquilo que é ao mesmo tempo selvagem e suave. Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com seu nome. Ou não se acerta, mas, uma vez chamado com doçura e autoridade, ele vai. Se ele fareja e sente que um corpo-casa é livre, ele trota sem ruídos e vai. Aviso também que não se deve temer o seu relinchar: a gente de engana e pensa que é a gente mesma que está relinchando de prazer ou de cólera, a gente se assusta com o excesso de doçura do que é isso pela primeira vez”.
Lóri escreve como presente para Ulisses, em Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres, Clarice Lispector.

"De que modo vou abrir a janela,se não for doida?"



Nunca soube porque eu gosto tanto de janelas...


" " Adélia Prado

"...e eu a esperar pela ternura..."



Acho tão estranho quando alguém diz assim: "Fulano, no fundo, no fundo é uma boa pessoa..." Uai, gente, o que serve a pessoa ser boa no fundo? Não tinha que ser no raso, pra gente perceber e se beneficiar do que é bom no outro, o Fulano? Quem é que vai andar por aí de vara de pesca na mão, tentando pescar o que de bom tem nas profundezas desse tal Fulano? Eu quero olhar e ver, logo assim de cara, na minha cara, na minha frente o que Fulano tem de bom... e no mais, o raso não reflete o fundo? E então a gente mergulha...

" " Até Pensei - Chico Buarque

quinta-feira, março 04, 2010

"não me diga mais quem é você"

Deixa Andar
Nô Stopa

Meu coração se perdeu no labirinto do querer
Ele não quer querer assim
Mas meu coração tem vontade própria e nao vê
Me deixa andar eu deixo ir
Meu coração percebeu nas armadilhas do viver
Que não quer cair assim
Um coração que nao vê
Me deixa andar e eu deixo ir
Me deixa andar e eu deixo ir
Assim...


" " Noite dos Mascarados - Chico Buarque


"então tá combinado"


Segredo

s.m

1. Coisa que não deve ser sabida por outrem

2. Coisa que se diz a outrem mas que não deve ser sabida de terceiro.

3. Reserva, discrição.

4. Arte, ciência.


O seu nome é uma faca me dilacerando

O segredo é uma faca de dois gumes

Morro de paixão, morro de ciúmes.

(Faca – Fátima Guedes)


" " Tá combinado - Peninha

"você não sabe, mas é que eu tenho cicatrizes"

20 de abril de 2006
tenho vivido dias de estranhamento, como se visse de fora a minha própria vida, como se a realidade me parecesse uma novela que eu vejo através da tela. Não tenho escrito as minhas cenas, e me sujeito a protagonizar cenas medíocres; a iluminação, o cenário, tudo tosco e fosco, tudo em preto e branco e o roteiro, pobre e óbvio demais.
24 de abril de 2006
ser diferente em meio aos iguais incomoda e acho que estou caindo na vala comum da mágoa comum dos excluídos. Ele me faz parecer comum. Esse sentimento me torna medíocre e não suporto o espelho e não suporto mais gente que me limita, me encurrala, me acusa quando eu quero um pouco mais. Não caibo mais em mim, não sou esse invólucro, não sou esse rótulo que pregaram em mim. Mas também não sei dizer a que vim, não sei mostrar o que sou. Preciso me afastar e não vou... quero olhar de longe a paisagem e corrigir o que está errado. Eu nunca me dou tempo, não sei esperar dias, compro o produto imediatamente e me arrependo. Não sei esperar a primavera, não sei esperar o amadurecimento das frutas, e como sempre verde, a polpa dura, travosa. E se há um remédio, se há um jeito, há de ser saber esperar, preparar as chegadas, arrumar a casa e o jardim, e não sei, não sei, não sei...

" " Falando sério - Mauricio Duboc/ Carlos Colla (canta RC)

quarta-feira, março 03, 2010

"baby eu só queria te dar a mão"

"o louco que ainda me resta
só quis te levar pra festa"



" " Baby, eu queria - Nando Reis

"...deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar"

De verdade, de verdade mesmo eu só quero que valha.
Que valha uma canção do Chico César cantarolada um dia inteiro...
Que valha Cássia Eller cantando “Palavras”...
Que valha um poema de Adélia Prado...
Menos não vale.
Menos nem quero.


Pétala por pétala, Chico César
A sua falta me fez ver
O que de mau a vida pode ter
E a sua volta me dá mais
De todo o mel que eu ousaria querer
Sua presença me faz rir
Nos dias feitos pra chover
Nao há revolta pra sentir
Nem há milagre pra não crer
Vinda que finda
A tinta de pintar tristeza
E deixa os mistérios plenos de sentido
A flor da vida toda
Pétala por pétala
Que um tolo pode colher
Sem saber que é amor
Vem e aumenta em mim
O único que sou
E subtrai do que em mim passou
É amor, vem...


Palavras ao Vento
Cássia Eller
Composição: Marisa Monte/ Moraes Moreira
Ando por aí querendo te encontrar
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar
Que o nosso amor pra sempre viva
Minha dádiva
Quero poder jurar que essa paixão jamais será
Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras
Ando por aí querendo te encontrar
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar
Que o nosso amor pra sempre viva
Minha dádiva
Quero poder jurar que essa paixão jamais será
Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras, momentos
Palavras, palavras
Palavras, palavras
Palavras ao vento...



Amor
(Adélia Prado)

A formosura do teu rosto obriga-me
e não ouso em tua presença
ou à tua simples lembrança
recusar-me ao esmero de permanecer contemplável.
Quisera olhar fixamente a tua cara,
como fazem comigo soldados e choferes de ônibus.
Mas não tenho coragem,
olho só tua mão,
a unha polida olho, olho, olho e é quanto basta
pra alimentar fogo, mel e veneno deste amor incansável
que tudo rói e banha e torna apetecível:
caieiras, desembocaduras de desgostos,
idéia de morte, gripe, vestido, sapatos,
aquela tarde de sábado,
esta que morre agora antes da mesa pacífica:
ovos cozidos, tomates,
fome dos ângulos duros de tua cara de estátua.
Recolho tamancos, flauta, molho de flores, resinas, rispidez de teu lábio que
suporto com dor
e mais retábulos, faca, tudo serve e é estilete,
lâmina encostada em teu peito. Fala.
Fala sem orgulho ou medo
que à força de pensar em mim sonhou comigo
e passou um dia esquisito,
o coração em sobressaltos à campainha da porta,
disposto à benignidade, ao ridículo, à doçura. Fala.
Nem é preciso que o amor seja a palavra.
"Penso em você" - me diz e estancarei os féretros,
tão grande é minha paixão.


" " Palavras ao vento Marisa Monte/Morais Moreira

"e de repente o seu olhar, eu vi um céu"



“enorme o seu lugar, quase o vento
mas é dentro de mim mesma que cabe”
Nando Reis



Das coisas boas, você.
Na verdade, eu, e o que senti em relação à você.
E aí você pode chamar do que quiser, uma delicadeza, um encantamento, uma paixão. Foi e é bom sentir.
Me veio, esse sentimento, num momento tão delicado, tão doído, e sim, me floriu de novo, por dentro umas tulipas azuis e outras laranjas, enormes.
Foi pouco talvez, eu sei, mas quem é que vai medir essas coisas do de dentro. Como se vai medir? Que parâmetros usar? A freqüência, o número de encontros, o número de palavras, o número de beijos, desejos?
Não é importante o que vai acontecer, se vai acontecer, se já deu, se já era... Foi bom, olhei pra mim, me enfeitei, pus de novo, como uma criança menina, fitas nos cabelos, vestido de domingo. Olhei pra dentro, me deixei sentir, me permiti ouvir música de olho fechado. O que vai ser? Bobagem. Isso que sinto é e será, porque isso eu carrego comigo para o que vier, para tudo o que eu for ser, for viver.
Se quero estar perto, se quero estar ao seu lado? Eu juro que preferia estar do lado de dentro, e pulsar um pouco na sua vida. Ouso dizer sim pra tudo, fechar de novo os olhos, ouvir dez vezes aquela música, fechar os olhos todas as dez vezes, ser entregue, e ser entregue sem mover-me um passo, tudo quieto e assim, aqui, dentro de mim, por você, pra você.
Beijo grande
A.

" " Sem você não dá - Lobão


terça-feira, março 02, 2010

"é só pra dizer, e diz"

Este blog é meu, gente.
E não tem que servir pra nada prático. E não quer convencer ninguém de coisa nenhuma. E não pretende tentar desesperadamente ser original.
Este blog não tem compromisso com o tempo; não esperem ordem cronológica nos meus escritos. E os meus escritos estarão aqui, e os escritos dos outros também, é claro sempre com os créditos devidos. Alguns escritos serão ficção, outros não... Não quero relatar, delatar, denunciar, acusar ninguém... Por outro lado, qualquer semelhança com pessoas, fatos, lugares, situações poderão não ser mera coincidência. E aí,cada um toma pra si aquilo que acha que lhe cabe, para o bem e para o mal.
Este blog também não tem compromisso com o pronome "te" do nome "tudo o que eu não te disse, este blog fala com quem eu tenha vontade, ou necessidade.
Este blog nasceu da vontade de falar do que ficou guardado nas minhas gavetas ao longo dos anos, nas gavetas tristes e alegres, amargas e doces.
Este blog é pra contar do que eu vi, do que eu ouvi, do que eu disse e de tudo o que eu não disse. E o que ficou por dizer foi tanto... sempre... pelos mais variados motivos, alguns já digeridos, outros não.
E a decisão mesmo de começar a fazer este blog foi tomada no carnaval deste ano, e os íntimos sabem o porquê, mas isso a gente deixa pra um outro post, qualquer dia desses. O nome do blog foi, acho que sem querer, idéia da Paty F.


"" Você é linda - Caetano Veloso